Mensagem do Ministro da Ciência e da Tecnologia

para a comunidade portuguesa

10 de Junho EUA

 

Mensagem lida pelo Ministro do Trabalho, Ferro Rodrigues, num almoço organizado pela Câmara do Comércio em San Jose, California, a 8 de Junho de 1998.

 

Há oito dias, os portugueses, onde quer que estivessem, tiveram orgulho do seu país. O space shuttlle Discovery levou a bordo uma bandeira portuguesa, numa homenagem aos 500 anos da viagem de Vasco da Gama. Mas este gesto do Governo norte-americano foi acompanhado por outro contributo do saber lusitano: uma importante experiência científica com colaboração de investigadores portugueses.

É sinal da nossa maturidade. 

Percorremos um longo caminho até chegarmos aqui. Depois de décadas de amesquinhamento do saber, de culto pela mediocridade, que forçaram muitos dos nossos melhores cientistas e técnicos a emigrar, soubemos afirmar a qualidade científica contra interesses imediatos e visões provincianas.

A qualidade científica não tem preço e só há uma maneira de a garantir num país tão pequeno como Portugal e com uma comunidade científica ainda tão pouco numerosa: internacionalizando, fazendo com que os problemas científicos e o seu debate não se confinem às nossas instituições e exista além fronteiras.

 Levámos a cabo, no ano passado, uma vasta operação de avaliação internacional do sistema científico e tecnológico nacional. Ao fazê-lo com resistências por parte dos sectores mais conservadores tivemos dois grandes objectivos estratégicos. Por um lado, conhecer, à luz da experiência dos melhores especialistas mundiais, qual o estado da arte em Portugal e quais os melhores caminhos a seguir. Por outro, e porque ficou claramente demosntrado que, em muitos domínios, possuímos centros de investigação de excelência, obter um certificado de qualidade para a ciência portuguesa, que permita a sua afirmação na arena internacional.

 A produção científica portuguesa, referenciada internacionalmente, tem vindo a crescer continuadamente e mostra que atingimos, finalmente, um padrão de especialização "normal", em com paração com o do países mais desenvolvidos.

Dentro de oito a dez anos, Portugal terá recuperado o seu atraso em matéria de ciência e tecnologia, com os seus recursos ao nível da média dos países da União Europeia. Dizemo-lo com a convicção dos indicadores: o investimento público nos últimos três anos cresceu a uma média de 15% ao ano; o número de doutorados apresenta uma taxa "asiática" de crescimento 10 % ao ano.

 Ainda temos um longo caminho a percorrer, nomeadamente no relacionamento entre os centros de investigação e o tecido industrial. Não regateamos esforços: lançámos programas de investigação em consórcio, financiamos o recrutamento de doutorados pelas empresas, criámos incentivos fiscais para a inovaç&ati lde;o tecnológica.

O vosso exemplo é um bom exemplo. Num país competitivo como os EUA, souberam afirmar-se como elementos dinâmicos, apostaram na formação, aproveitaram as vossas competências técnicas e hoje as empresas de tecnologia avançada em que se empenharam são casos de sucesso. Temos, em Portugal, muito a aprender com a vossa experiência, com o vosso espírito empreendedor.

Hoje, lançamo-vos um novo desafio: na era da sociedade de informação, os centros de investigação, as universidades e as empresas de forte componente tecnológica em Portugal, estão já ali, ao pé de vós. E falam português. E são tão bons como os melhores. Porque não criar parcerias, estreitar contactos, promover projectos comuns?

Todos teremos a ganhar. E estaremos a construir uma comunidade portuguesa firmada não na nostalgia e num acaso de nascimento, mas em comunhão de conhecimentos e de saberes. São os meus melhores votos.

 

 

José Mariano Gago

Lisboa, 4 de Junho de 1998