Forum de Investigadores Portugueses

II Encontro de Cientistas Portugueses Radicados no Estrangeiro - Setembro 1998, Univ. Açores

Comunicação

Alguns Desafios da Educação em Portugal na Era da Internet e da Democracia Participativa


Pedro Ferraz de Abreu

MIT - Dept Urban Studies and Planning

CITIDEP - Centro de Investigação de Tecnologias de Informação para uma Democracia Participativa *

pfa@mit.edu


Artigo publicado Pedro Ferraz de Abreu | resumo comunicação Graça Castanho | comentário José Portela

Utilizadores da Internet no Mundo - 1999


Resumo

Usando como fio condutor o relatório Delors à UNESCO (1996), e tendo como base, entre outros aspectos, a experiência portuguesa e americana, este artigo aborda a relação entre educação e democracia, e alguns dos riscos e promessas que as novas tecnologias de informação trazem consigo, com impacto numa e noutra. Analisando alguns aspectos como a exclusão social (e.g. no acesso, no papel de produtor vs. consumidor de conteúdos), a estratégia política na área das telecomunicações (e.g. o papel do estado e do mercado, com impacto no ensino), e a importância de aprender e ensinar democracia praticando-a, apresentam-se aqui algumas sugestões, junto com uma visão crítica sobre algumas políticas que persistem em Portugal, por aparente erro estratégico ou por inércia; assim como se reconhecem políticas que se afiguram acertadas, e que como tal merecem o nosso apoio e encorajamento.


Introdução

O Relatório UNESCO da "International Commission on Education for the Twenty-first Century", mais conhecido como "Relatório Delors" (por ter este ilustre "Pai" do projecto europeu na presidência da Comissão), é uma boa referência base para reflectir sobre os desafios da educação em Portugal nesta era da Internet e da incontornável problemática da democracia participativa.

Este relatório, publicado em 1996, não podia ignorar o impacto da revolução nas tecnologias de informação, nem o impacto que as opções de politica de educação têm no tipo de sociedade que vamos construir. Com efeito, é uma preocupação que encontramos subjacente ao longo de todo o relatório e a que estão dedicados inteiramente dois capitulos: "From social cohesion to democratic participation" (cap. 2) e "Choices for Education: the political factor" (cap.8). São particularmente incisivos os sub-capitulos "information societies and learning societies", "Using the resources of the information society", "The impact of the new technologies on society and on education". Este breve artigo debruça-se criticamente sobre alguns aspectos destas temáticas e a sua correspondencia com algumas politicas em vigor em Portugal, com o objectivo de suscitar a reflexão sobre as mesmas.


1. O potencial das novas Tecnologias de Informação.

Porque têm as novas tecnologias de informação e comunicação (TIC) um impacte especial na sociedade em geral, e no ensino em particular?

Como parte da minha investigação nesta àrea, compilei um quadro (Fig. 1) agrupando as diversas tecnologias ao longo do tempo, identificando alguns dos seus atributos comuns, e o seu impacto na sociedade, ao tornar viáveis certos modelos de decisão, que de outra forma não seriam exequiveis:


Tecnologias de Informação


Atributos


Modelos de Decisão


voz


manuscrito


· de "poucos" a "poucos"

· alcance limitado

· sem processamento auxiliar

· acesso barato, universal

· custos de controle baixos


democracia directa


imperios heterogenios


imprensa


radio


TV



· de "poucos" a "muitos"

· alcance ilimitado

· com processamento na fonte

· acesso muito caro, restrito

· custos de controle medios


democracia representativa


ditaduras homogenias


rede satelite


rede fibra optica


µcomputador


· de "muitos" a "muitos"

· alcance ilimitado

· com processamento na fonte e no destino

· acesso custo moderado, potencialmente universal

·custos de controle altos


democracia participativa



ditaduras tecnocratas

Fig. 1: Evolução das Tecnologias de Informação e o seu Impacto (in Ferraz de Abreu, P., PhD Thesis working papers, MIT, 1994)

Não estando no âmbito deste artigo uma discussão exaustiva deste quadro, salientarei apenas que há duas diferenças vitais entre as tecnologias tipo "broadcasting" (imprensa, radio, TV) e as novas tecnologias emergentes (sobretudo microcomputadores em rede mundial), que têm aqui particular relevancia:

As implicações potenciais deste salto qualitativo tecnológico são enormes, tanto na sociedade em geral como no ensino em particular, e muitas delas evidentes. Mas é preciso não confundir potencial com concretização: não é só a natureza da tecnologia que determina um modelo de Sociedade, e muito menos um modelo de Educação. Tem pois especial interesse abordar aspectos em que se vislumbra uma contradição entre o potencial da tecnologia e a doutrina ou politicas em vigor.


2. Internet, ensino, exclusão social e a economia de mercado.

O Relatório Delors aponta, correctamente, para o perigo de tecnologias como a Internet poderem agravar o fosso que separa paises desenvolvidos - países em desenvolvimento, e classes favorecidas vs. classes desfavorecidas, senão existir um esforço deliberado, resultante de uma opção estratégica, no sentido de promover e facilitar o acesso. Ate' porque, e o relatorio também o salienta, estas tecnologias tem caracteristicas que permitem aos países e pessoas com menos posses saltar etapas e obter bom retorno mesmo de investimentos a escala mais moderada (os preços desta tecnologia tendem a cair para mesma capacidade e potencia).

Dai termos de aplaudir as iniciativas portuguesas como a dos "Centros de Competência Nónio" do Ministério da Educação (ME), e o programa do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) de instalação da Internet em todas as escolas secundárias (UARTE), que vão ao encontro desta preocupação.

Contudo, é importante não perder de vista algumas limitações no alcance deste esforço, que advêm tanto de atrasos estruturais e subdesenvolvimento endémico, como de falhas da economia de mercado ("market faillures"). Dois exemplos:

Uma melhoria óbvia seria o incentivo de um mercado de equipamento usado, ou "reciclagem" de velhos computadores em donativos nos meios económicamente débeis. E tal mercado existe p.ex. nos USA, embora muito fraco em Portugal. Contudo, aqui de novo funciona a distorsão induzida pela estratégia deliberada dos monopólios e grande industria, que transforma rápidamente um computador velho num monte de sucata inutil, ao criar muitas vezes artificialmente incompatibilidades com os novos modelos de periféricos e novas versões de software, cortando de facto o acesso à Internet e à rede de utilizadores das tecnologias a quem não compra novos modelos.

E' esta uma das grandes limitações que vejo no "Relatório Delors": um discurso social francamente progressista, uma grande sintonia com o "politicamente correcto" e a respectiva agenda tipica (preocupação com as minorias, combate à exclusão, etc.), mas sem denunciar sistemáticamente as "falhas do mercado" (numa altura em que a "deificação" da economia de mercado é a regra) e sem apresentar as reformas estruturais e institucionais sem as quais muitas das politicas e medidas defendidas correm o risco de não passar de boas intenções, ou até de introduzir novas formas de discriminação. Vejamos dois exemplos desse novo risco:

  • A sugestão das novas potencialidades do Tele-Ensino com base nas novas tecnologias, pode sem duvida ser um factor que incremente o acesso ao ensino em àreas remotas, especialmente do ensino médio e superior. Mas também pode ajudar a consolidar ou mesmo agravar a discriminação entre "cidadãos com escolas de segunda" e "cidadãos com escolas de primeira", se o Tele-Ensino servir de alibi para fugir a investir em igualdade de acesso ao ensino e expandir a rede pública de Escolas "reais" (vs. "virtuais").

  • Existe uma tendência em conotar a "info-exclusão" com a ausência de acesso a um computador, e a uma ligação à Internet. Mas a nova economia da sociedade de informação traz consigo novos modelos de negócio, entre os quais aqueles em que se oferece equipamento em troca da alienação ou condicionamento de direitos elementares, como o direito à escolha ou o direito à privacidade. Em várias escolas secundárias dos USA, existem monitores e computadores "oferecidos" por empresas, tendo como contrapartida a obrigatoriedade dos professores sujeitarem os seus alunos a anuncios e publicidade durante as suas aulas (!) nesses mesmos monitores video ou computadores, ou seja, obtendo um mercado literalmente captivo (nos USA, há cidades em que a policia prende jovens em idade escolar que estejam na rua a "baldar-se" às aulas, e força-os a voltar à escola). Algumas empresas oferecem computadores a troco do utilizador permitir que elas registem durante vários anos (!) todos os passos que dão na Internet, os sites que visitam, o tipo de compras que fazem, etc.
  • Por outras palavras: corremos o risco de criar uma sociedade em que todos têm acesso a um computador e à Internet, mas em que uns o fazem sem condicionantes e outros têm de sacrificar direitos - sob pena de exclusão total, se não se sujeitam.


    3. Estratégia política na área das telecomunicações e algumas consequências com impacto na Educação

    Pelos exemplos referidos e pelas questões levantadas acima, se compreenderá que o alcance das medidas, ainda que positivas, que estão a ser tomadas no sentido de fazer chegar às Escolas as novas tecnologias de informação, estão fortemente condicionadas pela estratégia adoptada na àrea das telecomunicações e respectivas infraestruturas.

    Vivemos numa época marcada por duas doutrinas dominantes: a de que o Estado deve alienar, privatizando, as infraestruturas e serviços, e a de que apenas empresas de grandes dimensões podem subsistir nesta àrea perante a globalização da economia.

    O que o governo está a fazer com a Portugal Telecom e' consistente com a estratégia de fortalecer grandes grupos nacionais, para lhes dar dimensão capaz de competir nas condições de mercado aberto da UE, e no mundo. Apenas isso pode explicar coisas como o facto do Governo permitir ou mesmo orquestrar o enriquecimento dos cofres da Telecom à custa dos utentes (subidas do custo das chamadas muito superior ao crescimento da economia e à inflacção prevista e sem melhorias da oferta de serviço) enquanto não chega a data da liberalização acordada na União Europeia. Mas, se não se pode negar que o problema da competição global não e' simples de lidar, a aplicação mecanica destas doutrinas, sobretudo em àreas estratégicas como as infraestruturas e serviços de comunicação, tem um efeito desastroso ao inibir a emergência tanto de iniciativas empresariais (e entrepreneurs) de pequena e média dimensão (que e' a dimensao que muitas vezes mais se ajusta ao ciclo rápido de inovação e servindo mercados de nicho), como do uso intensivo e extensivo das TI nas Escolas e no Ensino; pois uma e outra são fortemente dependentes dos custos e diversidade desses serviços.

    Eis exemplos de consequências da concentração/ monopólio prolongado Telecom em Portugal, e da estratégia seguida:

    a) Recusa de introdução imediata de "flat rates" para chamadas locais (verdadeira razão da explosão do acesso doméstico a' internet em paises como USA), mesmo quando isso simplificaria estrutura de gestão de serviços e baixaria custos de transação (p.ex. factura detalhada, de cujos custos a Telecom tanto se queixou). Pelo contrário, as chamadas locais foram encarecidas de forma artificial, para preparar a aceitação do publico da manutenção de preços altos nestas chamadas, para compensar perda de margens de lucro nas chamadas "longa distância" (p.ex. internacionais), que serão o tipo de chamadas onde a competição vai sobretudo incidir em breve.

    Este e' indiscutivelmente o maior travão ao crescimento do acesso à internet, sobretudo doméstico, e mesmo as medidas positivas do MCT de promover o congelamento do custo da chamadas de acesso à Internet (ate' quando ?) e' em absoluto insuficiente.

    b) Atraso enorme na introdução de acesso Internet via TV Cabo, acesso de banda mais larga e velocidade superior ao acesso via RDIS (de resto um pobre RDIS limitado em Portugal a metade da velocidade possivel); atraso a que não pode ser alheio o facto de a TV Cabo ser uma subsidiária do grupo Telecom, e que domina, com a Telepac, o grosso do mercado internet (donde não tem interesse em competir com o próprio serviço, sobretudo enquanto pode manter os utentes a pagar simultaneamente à Telepac e à Telecom, sem "flat rates").

    Isto tem como consequências, entre outras, limitar a entrada de entrepreneurs portugueses no mercado de produção de conteudos multimedia, ou a multiplicação de empresas inovadoras de prestação de serviços via Internet, pois esses serviços não se compadecem com baixas velocidades ou alto custo de banda mais larga, sobretudo quando esses serviços podem ser oferecidos por qualquer concorrente nos USA ou noutro país em que o empresário não é obrigado a suportar custos exorbitantes de acesso à Internet. As "autoestradas de informação" de outros países são assim os caminhos de lama no nosso.

    c) Uma prioridade clara de serviço dirigido ao meio empresarial tradicional e com maior poder económico, por regra o de maior dimensão (basta ler os boletins da Telepac); isto numa altura em que já se tornou claro que o mercado de massas, "grande consumo", e' o que mais potencial de crescimento tem. Acrescente-se que este mercado de consumidores individuais é o que traz maior impacto social, pelo que mesmo que não fosse o mais lucrativo, deveria ser objecto de prioridade do Estado. E se nos USA a expansão das TIC no ensino se fez com parcerias da Apple e da Digital e ate' da IBM e (salvo seja) da Microsoft, em Portugal esta' dependente do magro orçamento de Estado na Educação e Investigação, pois as empresas portuguesas pouco ou nada investem nesta àrea. Em Portugal, e' o povo, com os seus impostos, que subvenciona as empresas em tudo o que e' R&D e inovação -- para ja' não falar de outras subsideo-dependências.

    d) Não negociação da concessão da TV Cabo com contrapartidas de canais publicos para cidadãos, autarquias, e ... escolas, a exemplo do que se pratica em muitas cidades nos USA, como p.ex. Cambridge. Por outro lado, a motivação da Telecom, que detém o monopólio da TV Cabo, para construir de raiz uma infraestrura que permita 100% bidireccionalidade (igual velocidade e banda para "download" como para "upload"), é evidentemente nula, pois estaria a criar condições para o aparecimento de concorrentes na àrea lucrativa de serviços. Assim sendo, impede ou dificulta a exploração de alternativas de teleEnsino e verdadeira interactividade no uso da infraestrutura, pois dificilmente se pode chamar interactividade ao que consiste em o consumidor (repare-se bem, não é um exercicio de cidadania) poder comunicar que filme quer pagar para ver na Televisão, ou que produto quer comprar.

    e) Acordos monoliticos Telecom/Telepac/Microsoft, criando um monopólio "de facto" da plataforma software de computadores em torno do "Windows" (p. ex. ausência de oferta de acesso RDIS para a plataforma Mac OS, etc.), que e' estratégicamente um erro que conduz à dependência perigosa e à asfixia da inovação pela alternativa; com o agravamento de ser praticada esta politica em vários organismos da administração publica, onde tenho conhecimento de documentos em que se fala de "erradicar" (sic!) a plataforma Mac, sem qualquer justificação plausivel técnico/financeira. No ensino, certos manuais escolares do curriculum de TIC mais parecem manuais da Microsoft, estando nós assim a produzir gerações de estudantes que estarão intelectualmente captivos do monopólio Microsoft, em vez de terem aprendido a distinguir a ciência e a técnica informática de uma aplicação particular dessa técnica, e como tal capazes de produzirem inovação e progresso por via do confronto de alternativas.

    Esta politica compromete a inovação a nivel internacional e nacional, e em particular ajuda a cristalizar o atrazo enorme da Europa em matéria de software, atraso a que não e' alheio esta tendência europeia (talvez de origem napoleónica ou germanica, ou mista) de standardizar e regimentar tudo em detalhe. Deviamos recordar o desastre de se ter adoptado na UE como standard para microcomputadores o MS-DOS, atrasando em anos a renovação de software, por comparação aos USA, em que as Escolas são ambientes ricos em alternativas. Ainda hoje temos programas de instituições europeias públicas que são so' compativeis com MS-DOS, ou, agora, Windows - excluindo consequentemente todo o cidadão que não use essa plataforma. Isto quando a lição da Internet e da "World Wide Web" (com o standard HTML, independente de plataforma software) e' precisamente que o que vale a pena standardizar são protocolos de comunicação entre plataformas, libertando o utilizador para escolher o sistema que melhor lhe aprouver.


    4. A importância de aprender e ensinar democracia praticando-a

    Para terminar, uma palavra sobre o ensino de cidadania, tal como é visto no "relatório Delors". Penso que é fundamental distinguir entre o ensino de estudantes até os 13, 14 anos, o que Sartre chamaria talvez "a idade da razão", e os estudantes a partir dos 14, 15 anos. Considerar estes estudantes como individuos capazes de começar a assumir responsabilidades, ter ideias próprias; e assim integrar o ensino na comunidade e ate' na produção (económica, cultural, serviço publico).

    A adolescência é uma fase generosa e criativa do ser humano, e contudo mesmo estudantes com maioridade legal são frequentemente tratados com paternalismo "protector" pela escola e pelo sistema. A realidade é que muitos jovens sem maioridade legal têm já responsabilidades efectivas na sobrevivência económica das suas familias e plena consciência dessa responsabilidade. A realidade é que as prisões da ditadura fascista em Portugal acolheram largas dezenas de jovens estudantes com menos de dezoito anos, por terem ousado resistir ao fascismo e promover acções de solidariedade para com a população desfavorecida. Eu conheci muitos deles. E a realidade é que os cemitérios da Europa estão cheios de jovens de 15, 16 e 17 anos, mortos pelos Nazis por serem membros activos e plenamente conscientes da Resistência. Não será politicamente correcto relembrar isto hoje em dia, mas penso que é inegável que estes factos põem em causa pelo menos alguma coisa da filosofia dominante do sistema de ensino.

    Por isso, tenho algumas reservas sobre os "parlamentos a brincar" (o "role playing" e a simulação de parlamentos sugerido no relatório Delors como método de ensino de cidadania). O que poderá constituir um método apropriado para os muito jovens, corre o risco de ser a expressão dessa visão paternalista, se aplicada indiscriminadamente a todos os estudantes, como parece ser a visão do relatório. Em muitos assuntos e circunstâncias a participação democrática não precisa de ser uma simulação, pode ser uma intervenção real e responsável tanto na gestão da escola, como na participação e mesmo por vezes liderança em serviço público enquadrado pela Escola.

    Dito isto, é preciso reconhecer que o "relatório Delors" identifica com frontalidade alguns dos desafios que se levantam ao ensino da cidadania, e assume com coragem a recusa de uma visão "neutra", sem receio de defender valores como a democracia e a participação dos cidadãos nas decisões que afectam o seu destino, e o vinculo inevitável entre os valores promovidos na Escola e os da sociedade que daí resultará.

    Mas o relatório aparenta uma certa dificuldade em apresentar o Ensino e a Educação também do ponto de vista dos estudantes, e não aborda aquilo que é contudo um fenómeno comum e universal - o da contestação estudantil no seio do sistema de ensino, e o papel que essa contestação desempenha, ou pode vir a desempenhar, na reforma do sistema. A inversão radical de papeis sobre a relação professor / aluno, típica de revoltas estudantis (os anos sessenta em França e na Alemanha, os anos 70 em Portugal), tem por vezes origem no facto de ainda não se ter aprendido em muitas escolas a gerir o problema da autoridade do professor sem ser por via administrativa e da menorização do aluno, mesmo quando este ja' tem idade de cidadania. Para ensinar democracia, os professores (e não so' os dessas disciplinas) e autoridades escolares têm de ser capazes de adquirir legitimidade através do esforço para conseguir o reconhecimento, por parte dos alunos, do seu saber, da sua dedicação e tolerancia, da sua capacidade de respeitar o aluno e reconhecer-lhe cidadania e autonomia para opinião e accão própria; em vez de a adquirir por via da arrogancia académica e da mera força legal e administrativa, com base no seu papel todo-poderoso no exame e na selecção.

    A democracia aprende-se praticando. Mas também se ensina praticando a mesma.

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    CITIDEP - Centro de Investigação de Tecnologias de Informação para uma Democracia Participativa, é uma instituição internacional sem fins lucrativos, com sede em Lisboa, que tem como principal objectivo incentivar a investigação multi-disciplinar no domínio da Sociedade de Informação, reunindo 50 investigadores e docentes universitários nacionais e estrangeiros, nomeadamente da Universidade de Lisboa, Universidade Nova de Lisboa, Universidade do Algarve, Universidade de Coimbra, Instituto Politécnico de Viana do Castelo, Universidade Lusófona, Universidade Estadual de Londrina - Brasil, Universidade de S. Paulo, Université de Paris, London School of Economics, MIT-Massachusetts Institute of Technology, Harvard University, University of Massachusetts, University of California, Ohio University, University of Illinois, University of Colorado, Universidad Autonoma del Estado de Mexico, Universidad de Guajuanato - Mexico e Colegio Mexiquense. web address: www.citidep.pt



    Resumo da Comunicação de Graça Castanho

    7 Setembro 98

    Doutoranda na Universidade do Minho (Metodologia e Ensino da Língua Portuguesa); Mestre em Didáctica da Língua Materna


    Defendida a premência da globalização do direito ao acesso à educação básica, muitas questões surgem em torno da problemática da aprendizagem, algumas delas, compreensivelmente, pouco exploradas no relatório da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, cuja preocupação foi deixar bem clara a ideia de que os desafios dos nossos dias só serão ultrapassados através da participação democrática dos indivíduos na sociedade, participação esta que pressupõe o processo de escolarização.

    Educar, no sentido de proporcionar momentos ricos e significativos de aprendizagem conducentes a uma melhor integração no mundo circundante, passa por uma análise dos meios e instrumentos que estão ao nosso alcance facilitadores da transmissão dos saberes, dos princípios e valores.

    Neste contexto, a língua de comunicação e as linguagens utilizadas nas escolas merecem uma reflexão cuidada, uma vez que constituem o veículo por excelência do conhecimento, permitem o processo de socialização e o enraizamento cultural do indivíduo à dimensão local e global.

    Por este motivo, nesta comunicação, far-se-á a problematização desta questão essencial, responsável pelo insucesso escolar de milhões de alunos em todo o mundo. Destaque será dado aos alunos imigrantes e refugiados em países de acolhimento que lhes são desconhecidos, onde têm de fazer a escolarização noutra língua que não a sua de origem e às comunidades que, no seu próprio país, veêm preterida a sua língua materna de comunicação em favor de línguas oficiais impostas.

    Finalmente, será estabelecido um possível paralelo entre estas situações e o que se passa nas escolas em Portugal que vivem um estado de "pseudo-bilinguismo" quando confrontadas com a necessidade de introduzirem na prática lectiva novas tecnologias de informação e comunicação.


    Comentário informal de José Portela

    PhD
    Direcção da ESE do I.P. de Viana do Castelo

    7 Setembro 98

    Passaram-se dois meses desde que me pediste para fazer um comentário ao relatório do Jacques Delors, "Learning: The Treasure Within", que eu pedi para ser adquirido para a nossa biblioteca. Pois não chegou cá! E' pena e é de lamentar. Pois apesar dos meios disponiveis (uma secreta'ria, verbas, telefone, correio electronico., ligacao a Internet) o que e' um facto e' que nao consegui o livro! Decidi pesquisar o relatório na Internet (mais uma vez). Naveguei com algum cuidado usando as palavras chave que me pareciam mais adequadas. Fui até ao <Centro Jacques Delors>, em Lisboa. Cliquei em "Documentos e publicações em texto integral" Lá encontrei capas com os títulos de publicações: "Portugal na União Europeia" e outros, embora "a disponibilizar brevemente" dizia abaixo. (Um mau exemplo. Para que serve a indicação de que ira ser brevemente disponibilizado? e há quanto tempo estará lá este "brevemente"? Parece-me uma forte desmotivação para uma proxima visita.) Mas do relatorio do Jacques Delors nada! Nao desisti! Fui até `a editora da CE e ai encontrei muita informação sobre os livreiros e a importancia para eles de uma europa unida, etc, etc. Quase a desistir usei um motor de pesquisa e finalmente encontrei uma referência ao relatorio. "Highlights" do tão procurado relatório". Só os "highlights"? Então e o resto? Eu sei que não iria ter tempo de ler tudo, mas pelo menos gostava de poder decidir sobre os capitulos mais interessantes para o meu trabalho.

    Na ultima página uma mensagem: ORDER FORM: UNESCO publications may be ordered at any bookshop or through UNESCO publishings sales agents in each country. In case of difficulty (parece que afinal as dificulades já eram previsiveis) [] aceitam-se encomendas directas pre-pagas, cartão Eurocard, MasterCard ou Visa. Pois e, os serviços de contabilidade da escola dizem-me que só se for uma factura passada por uma livraria portuguesa!!! "Mas então quem e que nos pode pedir o livro e passar a factura, perguntei eu?" AH, isso só em Braga!!! E assim foi Pedro, nao consegui ler o relatório a tempo de escrever um comentário apropriado. Uma modesta e humilde sugestnao para os senhores dirigentes, ministros e governantes:

    Por favor ponham os relatorios, livros, informacao em geral disponivel integralmente na Internet e depois cobrem o custo directamente a quem o quiser transferir. De certo que os especialistas da contabilidade publica em conjugação com os da informatica haverão de descobrir, mas por favor FACILITEM-NOS o acesso `a informação.

    A Internet vai ajudar imenso, disso não temos a minima duvida, mas e' necessario que os serviços administrativos estejam preparados e funcionem! E preciso desburocratizar os processos e confiar, mesmo nos que estão longe dos centros de decisão!

    Um professor isolado corre o risco de ficar alcunhado de "rato da Internet" (ou coisa pior) se estiver continuamente a clamar junto dos colegas que e' importante que a usem e depois, quando lhes queremos mostrar como lá se encontra TUDO, pumba, se queremos ler tudo lá temos de voltar ao velho processo de comprar o livro, obter factura, nota de encomenda e tempo, tempo tempo.

    Penso que nao ficaria nada mal, nem abalaria o orçamento se o ME (em colaboração com o MCT ) pagasse direitos a autores de paginas tipo "manuais escolares"para serem disponibilizadas na Internet para que em alternativa aos livros de texto servissem as escolas, os alunos, os professores e os pais no acesso a conteudos, actividades, testes dos programas escolares. Seria uma alternativa aos livros escolares e uma forma de termos concentrada a informação sem necessidade de fazer mais uma ampliação nas estantes lá de casa. Os que não tivessem acesso directo 'a Internet poderiam solicitar ao professor a impressão de uma cópia, a cópia dos ficheiros com os textos e as actividades, ou (e de preferencia) frequentar os centros Nonio-Seculo XXI a funcionar em quase todas as escolas portuguesas, a biblioteca publica, ou ate os quiosques InfoCid.

    Sabe-se que mudar as atitudes e os procedimentos na população e principalmente na administração publica e' tão dificil como pôr um elefante a dançar o vira, mas o desafio ai está; e eu já comecei a treinar (o vira!).




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