Projecto IMS

Sistema Multimedia Inteligente para Apoio á Consulta Técnica e Pública

Janeiro 1998

Pedro Ferraz de Abreu

MIT - Dept. Urban Studies and Planning, USA
CITIDEP - Centro de Investigação de Tecnologias de Informação para uma Democracia Participativa, Portugal

pfa at mit.edu

Indice Geral

Introdução | Problema | Metodologia | Fases de Execução | Sistema | Taxonomias | Experiência | Discussão de resultados | Conclusão | Agradecimentos | Bibliografia | Anexos


Problema


Introdução Deficiências no sistema de transmissão e acumulação de experiência Dificuldades de integração multi-disciplinar e multi-organismo Dificuldade de satisfazer audiências muito diversas Limitações de cada "Forum" actualmente disponivel para dialogo e análise interactiva



Introdução

O problema-alvo desta investigação consiste na recente explosão em Portugal de processos de EIA com consulta pública obrigatória, constatando-se frequentemente uma insuficiência e/ou inadequação de meios para lhe fazer face. Que papel podem desempenhar aqui as novas tecnologias de informação?

É importante identificar, de entre as multiplas facetas deste problema que afectam os processos de EIA e a respectiva consulta pública, aquelas que mais poderão beneficiar das novas TI. Nessa perspectiva, as que considerei mais promissoras para esta investigação são as seguintes:



Deficiências no sistema de transmissão e acumulação de experiência

Muitos sãos os casos de EIA que podem benificiar de experiencias anteriores, quer no que diz respeito a dados e documentação, quer em relação a metodologias, processos e "know-how". Verifica-se actualmente que grande parte da documentação não está ainda informatizada, ou, se o está, encontra-se dispersa por diferentes organismos e provavelmente em formatos incompativeis (p. ex. bases de dados dedicadas). Nestas condições, a transmissão de conhecimentos e experiência faz-se exclusivamente através da consulta a peritos que trabalharam em casos anteriores e / ou dedicando um tempo precioso a recolher, filtrar e organizar documentação relevante. Uma e outra solução encarece signitivamente o EIA, para não mencionar que o tempo disponivel é geralmente já limitado mesmo quando apenas dedicado ao novo estudo em curso; mas a alternativa, ou seja, ignorar a experiência acumulada, é igualmente indesejável (ou mesmo arriscada).

O mesmo se aplica, talvez com maior acuidade ainda, para o processo de Avaliação de Impacte Ambiental (AIA).

Como podem as novas tecnologias de informação ajudar? Haverá sempre necessidade de recorrer a peritos experimentados, e a um trabalho de pesquisa documental. O objectivo de qualquer tecnologia de apoio deve pois ser o de tornar mais eficiente o processo, diminuindo os custos em tempo e em ocupação de recursos humanos. Técnicas de inteligencia artificial (representação de conhecimentos, sistemas periciais) permitem capturar parte da experiencia de técnicos, e acumular um repositório de informação disponivel a partir daí em computador. Técnicas de multimedia e hypermedia permitem facilitar a exploração de dados, sem obrigar a uma estrutura rigida quer de organização quer de visualização (por exemplo, o acesso directo - em segundos - a segmentos dispersos de video, em vez de ter de rebobinar - em minutos - cassettes , pode significar a diferença entre alguem se dispôr ou não a visionar informação recolhida em video). Parte do meu trabalho de investigação foi dedicado precisamente a combinar estes dois tipos de tecnologia, através de um sistema inovador de classificação de documentos (metadata) que minimiza problemas de compatibilidade (em software).



Dificuldades de integração multi-disciplinar e multi-organismo

Qualquer EIA tem necessáriamente um conteudo multi-disciplinar, e a tendência actual é a de alargar cada vez mais o ambito do estudos de impacte (nos EUA, por exemplo, são frequentes estudos detalhados de implicações no dominio da economia, infra-estruturas e politica social). A integração do trabalho de técnicos em diversas àreas apresenta algumas dificuldades, particularmente quando não se dispõe nem de tempo nem de recursos para dedicar uma fase preliminar á consolidação de uma linguagem e um sistema referencial comum. Em consequência, nem sempre se explora devidamente as interacções entre modelos (conceptuais ou matemáticos) utilizados para avaliar o impacte em cada area em estudo. Como é natural, o processo de AIA herda toda esta complexidade.

A outra face da mesma moeda, é a correspondente dificuldade de interligar diversos organismos e entidades (equipa técnica, comissão de acompanhamento, autarquias, ministerios, organizações não-governamentais). Para além das subtilezas e susceptilidades politicas, que não podem ser ignoradas, muitas entidades têm já os seus recursos humanos sobrecarregados com as suas obrigações habituais; pelo que dificilmente estarão em condições de proceder a frequentes consultas inter-organismo a fim de avaliar possiveis incongruencias a evitar (ou sinergias a aproveitar), entre cada alternativa em estudo (no EIA) e os seus universos de actuação (p. ex. jurisdicção de cada entidade; planos de projectos que podem competir entre si; etc. ).

As novas tecnologias de informação, sem representarem nenhuma panaceia, poderão contribuir nesta area em duas frentes.



Dificuldade de satisfazer audiências muito diversas

Para efeitos de consulta pública, o principal produto da entidade reponsável por um EIA é um relatório denominado "resumo não-técnico" (RNT). Na realidade, a audiência a quem se destina este relatório é muito diversa quanto ao grau de cultura técnica, e torna-se cada vez mais dificil satisfazer simultaneamente os requisitos formais para o resumo, ou seja, linguagem simples, e os requisitos reais de muitos cidadãos e grupos de cidadãos que não aceitam facilmente uma conclusão sem uma fundamentação mais sólida -- o que pressupõe pelo menos algum nivel de argumentos técnicos.

A utilização das novas tecnologias de informação podem complementar de forma útil o tradicional relatório impresso, com uma versão em computador (distribuida, por exemplo, em CD-ROM). Esta versão electronica apresenta a grande vantagem de permitir a cada pessoa seguir as conclusões do EIA com o nivel técnico que desejar, do mais superficial ao mais detalhado. Com efeito, é possivel utilizar as técnicas multimedia e hypermedia para criar "trilhos" de informação, tal como parques oferecem pistas de treino de niveis de intensidade ou dificuldade variada. Combinando com o uso de inteligencia artificial, será ainda possivel ao cidadão (ou grupo de cidadãos) mais exigente e sofisticado de seguir em profundidade e em extensão o raciocinio e a fundamentação dos proponentes; e consequentemente emitir uma opinião mais informada, quiçá um "feedback" mais util.



Limitações de cada "Forum" actualmente disponivel para dialogo e análise interactiva

Na situação actual, o publico pode participar na consulta pública de um EIA deslocando-se a uma reunião, lendo os documentos postos á consulta , ouvindo / lendo entrevistas na radio, TV e jornais, e finalmente escrevendo a sua opinião, dirigida aos decisores. Contudo, verifica-se com frequencia um contraste entre a aparente preocupação popular com o projecto em causa, e a participação real do cidadão no processo: em pequeno número, e sem grande efeito.

Diversas explicações são possiveis para este fenómeno. Alguns factores, porém, são de particular interesse para a discussão do papel que podem ter as novas tecnologias de informação:

A hipotese-base deste projecto de investigação foi assim de que a utilização de um sistema multimedia inteligente, combinado com um mecanismo de acesso interactivo ás opiniões emitidas (por exemplo, utilizando uma àrea da Internet, com a tecnologia WWW - World Wide Web), pode contribuir para um processo de consulta pública e técnica mais responsável, mais rico, mais motivador, em suma mais proximo do ideal de uma democracia participativa.


pfa at mit.edu


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